quinta-feira, 13 de maio de 2010

Pecado

- Algumas pessoas pecam por falar demais, e outras pecam por não falar - ele disse.
A única reação que tive foi o fitar, olhando a fundo sua expressão.
Aqueles olhos não me diziam nada. Sua expressão facial simplesmente não existia. Ele me olhava como se eu fosse um ser de outro planeta. No meio desta confusão, meu coração pulou, acelerou de tal forma que só meus olhos se moviam.
- Eu peco por não falar - eu disse.
Ele continou me analisando. No fundo, não há dúvidas de que este seria meu pecado: falar pouco ou não falar nada.
Eu tentei falar palavras; palavras soltas que amenizassem meu pecado. Mas elas saiam de minha boca livres e soltas, não havia conexão. Demorei a perceber que 'coerência' não fazia parte de nosso vocabulário. Silenciei.
Estávamos em busca de uma razão em ambos. Maldita racionalidade. É a regra da ação e reação no cotidiano. Para toda reação necessita-se de uma ação e virse-versa. Eu reagi sem que houve uma ação. Ele não me conhecia o bastante para decodificar meus atos; para perceber que eu não me comunico por palavras. Minha linguagem é outra! É interiorizada, expressidade, escrita, interpretada e jamais falada.
Silêncio.
Ops, cometi meu pecado mortal.

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